Andy Jordan – March 2, 2022
Uma organização com quem eu trabalho com frequência decidiu que a partir desse ano não irá mais treinar novos gestores de projetos (GP) nas técnicas tradicionais de gestão de projetos. Os novos GPs desta organização não aprenderão sobre o gráfico de Gantt, estruturas de divisão de trabalho, técnicas de estimativa ou até mesmo as abordagens aceitas de gestão de risco.
Quando eu descobri isso, eu tinha apenas uma pergunta óbvia: Por que?
A resposta da empresa foi que já existiam muitos gestores de projetos que sabiam essas técnicas, e que se fosse necessário contratar ou substituir qualquer um deles, já havia muitos GPs disponíveis no mercado. E que ela sentia que essas técnicas tradicionais estavam se tornando obsoletas a medida que a entrega de projetos evoluía.
Não apenas significava que o ágil estava se tornando mais importante, mas também se referia a forma com que os próprios projetos estavam mudando – a evolução de projetos para produtos na área de desenvolvimento de programas e o foco em projetos mais curtos, entregues em uma cadência mais rápida, para refletir a aceleração dos negócios, por exemplo. A organização ainda citou o crescimento do método hibrido, que permitiu maior autonomia para os gestores de projetos e deu menos ênfase as abordagens padrão.
Se essa empresa está adotando esse tipo de ação, então eu comecei a pensar que outras empresas também poderiam estar – e que muitas mais poderiam estar considerando fazer o mesmo. Se isso se tornar uma tendência, então empresas que oferecem treinamentos deixarão de oferecer opções fundamentos de Gestão de Projeto.
Vamos encarar: Com o crescimento dos sites de treinamentos online e o impacto da pandemia, a indústria treinamento corporativo está sob significativa pressão. Se eles não puderem ganhar dinheiro com ofertas que abordam os fundamentos tradicionais de Gestão de Projetos, estes cursos simplesmente desaparecerão.
A necessidade por fundamentos
Penso que essa medida seria um erro grave. Não importa o quanto a gestão de projetos evolua, sempre haverá a necessidade das habilidades fundamentais da disciplina. Isso é o que eu acredito ser; elas não são os alicerces de uma abordagem ultrapassada e antiquada, como esta empresa sugeriu.
Vamos considerar alguns fatos inevitáveis sobre entrega de projeto:
- Quando você está planejando o trabalho, não importa como você pretende entregar o projeto, o que é necessário é considerar o que pode ser feito, no tempo determinado e com as pessoas que estão disponíveis para fazê-lo (estimativa). Você precisa considerar o que pode dar errado (identificação de risco e analise) e, então, dar os passos para administrar esses riscos (gerenciamento de risco). Você precisa tomar decisões com informações incompletas e então buscar uma forma de confirmar se suas escolhas foram assertivas (gestão de premissas). Essas coisas não vão embora e são administradas com abordagens diferentes.
- Entrega de projetos tradicionais, em cascata ou planejamento direcionado para entrega… não importa como você deseje chama-la, ela não é antiquada, ultrapassada, obsoleta ou qualquer outra coisa. Ela é uma das mais importantes formas de entregar projetos – e continuará a ser em um futuro próximo. Ela está evoluindo assim como tudo no mundo dos negócios.
- Você não pode entregar projetos usando uma abordagem hibrida se não entender os dois elementos chaves que compõem o método hibrido: Ágil e cascata. Se as pessoas pararem de aprender sobre uma dessas abordagens, elas acabarão usando abordagens informais, inconsistentes e ineficazes que comprometem o sucesso da organização.
Eu genuinamente não consigo entender como alguém pode ser um bem-sucedido gestor de projetos sem entender os fundamentos básicos do assunto, e é isso que esses cursos básicos oferecem. Claro que eles tendem a oferecer esses assuntos em um contexto mais tradicional, mas essas habilidades e conhecimentos básicos são necessários para a cada projeto e cada abordagem.
Pessoas não querem usar a abordagem de cascata (waterfall)
Quando eu disse tudo isso para a empresa em questão, a sua resposta foi que os novos e jovens GPs não queriam usar o método de cascata, eles apenas queriam aprender e utilizar o método ágil porque era “melhor”.
Bem, o ágil certamente é melhor em algumas circunstancias, mas ele também é categoricamente muito pior em outras. É como dizer que uma furadeira elétrica é melhor que uma serra circular. É como se você quisesse utilizar uma furadeira que faz furos, boa sorte, para cortar uma madeira.
Entendo que o ágil é popular e que isso talvez o torne mais atrativo para os novos profissionais. Mas não acredito que os novos GPs estão rejeitando o método de cascata e apenas procurando realizar as entregas dos projetos utilizando o método ágil. Eles podem preferir uma das abordagens, mas isso é diferente – no início de uma carreira, eles sabem que eles precisam ter o máximo de habilidades possíveis para ajuda-los a terem sucesso.
Para finalizar
Sim, existem muitos gestores de projetos que são altamente treinados no método de gestão de projeto tradicional. Mas muitos dos GPs estão no final de suas carreiras. Eles precisarão ser substituídos se as organizações continuarem a entregar projetos em que as melhores abordagens para eles são cascata ou hibrido. As habilidades que gestores de projetos aprendem como parte do seu treinamento básico em gestão de projeto tradicional são aplicáveis para todas as formas de entrega de projetos – sim, para todos os elementos de uma carreira.
Se empresas pararem de treinar seus novos GPs nesses fundamentos, a habilidade de entregar projetos com sucesso será afetada. Se os novos GPs não continuarem a aprender esses fundamentos, então suas habilidades de desfrutar uma longa e bem-sucedida carreira em gestão de projetos será severamente comprometida.
Fonte: https://www.projectmanagement.com/articles/766145/is-there-still-a-place-for–new–traditional–project-managers-
Tradução: Joseanne Lopes
Joseanne Lopes Conceição é brasileira, engenheira civil e estudante do MBA em Gestão de Projetos pela USP. Ela é empreendedora na área de construção, amante da gestão de projetos, de idiomas e da música. Joseanne está gosta de novos desafios e aprecia feedback.
Author: Dulce Machdo Souza
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